Thursday, May 11, 2006

Serena consciência de existir.

A serena consciência de existir... ( 28/06/98 )

Hoje, vendi-me ao vazio...
Espraiei-me na amplitude do quarto onde acordei,
Bebi um raio de luz, e voltei a dormir,
Rendido ao impulso do sono que sinto,
Quotidianamente, o mesmo.
Ontem, um responsável por mim partiu ( para sempre? )
Subtraiu-se a um mundo de seres de perder a conta,
Incondicionalmente,
E pegou-me o sentido de vida ( ou de morte...)
Actual...

.............
.............

Ouso um suspiro – movimento imenso,
Desafio enorme a esta lei de inércia que monótonamente confirmo,
Sou eu mesmo,
Renovando o ar que insistentemente inspiro,
Expiro, inspiro,
Outra vez, e outra vez igual...

.................
.................

Deslizo um pedaço, movimento de ilusão,
Pois energia e um corpo andante são
Tropelias de forças vivas e sonhos novos
De outros projectos que não os meus...


E o dia corre...
E a manhã brilha...

E pela janela entra uma fatia de luz oblíqua,
Que me convida à vida, e eu ignoro
Indiferente ao sol e à sua influência alternativa...


................


Que farei hoje? Serei alguém?
Não sei o que tenho...
Sinto-me eu, menos eu do que nunca...
( resta-me o som das plantas, que comigo crescem,
solidariamente alheias aos meus pormenores íntimos,
cúmplices das sombras que no tecto projecto e enormes,
recuso serem minhas...)

Não sei o que tenho...
( este sentido explico-o porque hoje é Domingo,
dia que se repete todos os dias no nome de
outro dia qualquer...)

Hoje faço 24 anos. Sem o pedir. Indefeso.
Rendido às marés que aceleram...

Detesto o tempo...

5 Comments:

At 7:56 am, Blogger Pierrot said...

Espectacular...
Sem dúvida que foi a melhor prenda de aniversário que te podias ter dado a ti mesmo.
Bateram-me forte as frases "Que farei hoje? Serei alguém?
Não sei o que tenho...
Sinto-me eu, menos eu do que nunca..."
Luto todos os dias por não passar o dia a riscar no calendário...
Luto todos os dias contra o cinzentismo
Parabéns
Muito bom mesmo
Eugénio Rodrigues

 
At 3:21 pm, Blogger RealSmile said...

Sem dúvida o meu preferido.. penso que a nossa existência será sempre uma dúvida intrínseca comum e eterna.. sempre ao nosso lado no passar dos anos.. ***

 
At 7:00 am, Anonymous Anonymous said...

Uau. Gosto muito da prosa, mas realmente o liricismo toca-me duma maneira especial. Escreve de uma maneira absurdamente espectacular!Adoro o egocentrismo, escrever sobre mim é algo que, apesar de ser bastante 'sociologa', faço várias vezes. Identifiquei-me muito com isto, toda a ideia de vazio, de ausencia, de insatisfaçao connosco proprios, com o facto de 'não querer ser'. Acho fantástico. Como se diz lá pelo Olhares, cinco estrelas, bom registo e bela composiçao! lol :)Deixo a seguir um dos meus textos,então, espero que goste! [trato por voce porque tenho uns meros 14 anos! uma ninharia...que eu odeio! ;)]

 
At 7:02 am, Anonymous Anonymous said...

As Crónicas da Aranha (In)Feliz


Monólogo da Penúria



Suplico pela telepatia
Que te traga às minhas cinzas.

O escorregar da lágrima
Na pele – amarga empatia.

...

Purgatório

...

O meu sangue frio não mereceu piedade
Da ebulição venosa que te habita as veias
Morte – cobardia, capricho humanos
Ambição desmedida pela envolvência nas minhas teias

As provas fúteis da violação
Ardem com as patas, ao teu calor
Feridas abertas, delícia da lascívia
És reflexo distorcido do animal:
Predador
Pecador
Para o bicho, a aranha foi carne
Para a aranha, o bicho foi amor

Ouço o gemer mudo dos poros de alguém
Daqui do subsolo
Ouço o gemer histérico dos seios de alguém
Daí do teu lado
Ouves o meu suspiro de saudade?

[Quero presença]

Escape único:

Queima o eu poético
Viola o animal no seu ninho

Mata-me outra vez
Devagarinho

 
At 2:47 am, Blogger Sonia Martins said...

Deveras, um lugar por onde passo várias vezes e curiosamente, aos fds...talvez por serem os dias em que o espelho me obriga a me enfrentar com afincada análise...amei o travo amargo de uma situação vivencial escrita tão poeticamente!Envolvente!
Beijo por seres quem és.

 

Post a Comment

<< Home